sexta-feira, 8 de março de 2013

Céu nublado


Estranha. Talvez, seja a palavra que mais se aproxima da sensação que tive pela manhã. Quase não acreditei que Chorão, o vocalista do Charlie Brown Jr. (CBJR), havia morrido. Até um dia desses, "Céu azul", o último sucesso da banda, tocava repetidamente nas rádios. Hoje, não apenas Céu azul, mas outras canções do músico devem ter tocado ao longo do dia, porém dotadas de certa tristeza.

Durante um bom tempo CBJR fez parte da trilha sonora da minha vida. Curti muito a banda, fui a show, comprei cd. Tempo suficiente para saber um pouco da história de Chorão, que vai desde uma infância difícil até a luta contra o câncer do pai. Quando a banda começou a aparecer (1996/97) na mídia, ainda morava em São Paulo e coincide com a época em que comecei a gostar de rock. 

Eu me recordo de uma situação engraçada envolvendo a banda. Em 1997, houve o “Close Up Planet”, um evento em SP que iria contar com bandas conhecidas no cenário nacional (Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso...) e gente de fora como David Bowie e No Doubt, que na época estava no auge por conta do single “Don’t Speak”. O CBJR começava a despontar e também seria uma das atrações.

Claro que meu interesse era ver o CBJR, enquanto que minha irmã desejava assistir o No Doubt. E foi assim, que esperançosos, ligamos para uma rádio que iria sortear convites para o evento. Acabou dando certo, fomos sorteados e só não foi melhor, porque depois de esperar por horas na fila do show, fui impedido de entrar por não ter a idade mínima permitida. Resumindo, minha irmã ficou e fui para casa com minha cara de “aborrecente”. Contudo, anos mais tarde teria a oportunidade de assistir a um show da banda.

É bem verdade que já faz um tempo que não escuto CBJR, o tempo passa e mudam os hábitos, os gostos, as prioridades. Por sinal, as últimas notícias sobre a banda não me “agradaram” muito. Ainda assim, por mais polêmico que fosse, Chorão era um cara autêntico, o que contribuiu para fazer do CBJR uma das bandas mais reconhecidas do rock nacional.

O que fica na memória é a imagem de um cara que (em meio a suas qualidades e defeitos) buscava transmitir uma mensagem positiva, e que visivelmente amava o que fazia. Pelo menos hoje, ficam lembranças de um tempo em que eu não tinha muito com o que me preocupar. E a sensação de que sempre há o que aprender com as pessoas. Seja com atitudes, palavras ou canções.

“Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido

Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta responsa
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir

Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol”
[Lugar ao sol – Charlie Brown Jr.]

3 comentários:

  1. Que onda... o mais difícil foi ganhar os ingressos e você não pode entrar por causa da idade... kkkk...

    Mas brincadeiras a parte... é estranho demais isso... parece que não é real, que ele não morreu e que ainda vai nos presentear com muitas de suas músicas cheias de tiradas brilhantes.

    Eu não era fã deles, mas sei reconhecer a qualidade nas letras e no som que a banda fazia... e se o cara era marrento ou brigão, como a mídia tá colocando, é porque ele queria defender seus ideais, seu jeito de fazer música.
    O mundo precisa de mais pessoas que lutem por aquilo o que acredita e que defendam a sua bandeira. E não o monte de papetas que estão aparecendo, que tocam aquilo o que a mídia convenciona como o que tá na moda, e mudam o tempo todo pra se manter dentro dos parâmetros da mídia.

    Sei lá, a morte só tem levado os melhores e ele era muito bom!

    Mas com certeza o legado que ele deixou, as suas criações são muito maiores e melhores que de tantos outros artistas que viveram muito.

    O importante não é quando ou como a gente morre (todo mundo vai morrer um dia, a forma ou a hora é apenas uma desculpa), o importante é como a gente viveu, aquilo o que a gente fez e o que deixa.

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    1. Olá Quesia,

      A história dos ingressos é um bom exemplo de situações que na hora você se irrita, mas anos depois morre de rir. E realmente foi difícil ganhar, levando em consideração que era uma rádio muito famosa em SP e que possivelmente haviam centenas ou milhares de pessoas concorrendo.

      Como disse anteriormente, gostei muito da banda em outros tempos, e certamente eles tem músicas que passam uma mensagem a ser levada em consideração. Acredito que autenticidade e amor ao que se faz são "ingredientes" que contribuem para o sucesso, independente da área. Chorão possuía essas duas características.

      Por fim, quando você diz que "a morte só tem levado os melhores e ele era muito bom!", não tem como não lembrar de Renato Russo cantando "Love in the Afternoon".

      "É tão estranho
      Os bons morrem jovens
      Assim parece ser
      Quando me lembro de você
      Que acabou indo embora
      Cedo demais"


      Um abraço,
      Wagner Silva

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    2. É, parece que Deus, Satanás, ou seja, lá quem for que esteja do outro lado gosta de ouvir uma boa musica né! Cazuza, Cassia Eller, Chorão, Kurt, Chico Science, Renato Russo... Arquitetos da boa musica sempre sendo levados para o outro lado da vida, enquanto os "denegridores de cultura" e assassinos da boa musica continuam a cuspir seus versos sem noção pelos encanamentos de esgoto chamados de “radio”. A única coisa que fica do homem quando ele parte são as suas obras e com certeza isso Chorão teve para deixar e muito... Fica em mim momentos bons de curtição com o Charlie Brown Jr, momentos de shows, de dias que eu saia do colégio mais cedo para assistir Top 10 MTV porque tinha estreia de clip, gladiações em varios shows, acordes e riffs de violão e guitarra que eu passava horas para aprender em frente ao cifra club, momentos difíceis de angustia e tristeza que as letras de Chorão me faziam refletir e superar e como ele dizia: “Eu tenho habilidade de fazer histórias tristes virarem melodia”.
      É, muitas vezes a vida nos prega peças, lembro-me de uma musica que Chorão dizia o seguinte:
      “Fragmentos da realidade estilo mundo cão, tem gente que desanda por falta de opção.
      E toda fé que eu tenho to ligado que ainda é pouco
      Eu faço da dificuldade a minha motivação
      A volta por cima, vem na continuação.
      O que se leva dessa vida é o que se vive, é o que se faz
      Saber muito é muito pouco, "Stay Will" esteja em paz.”
      Pontes indestrutíveis (chorão)

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