Estranha. Talvez, seja a palavra que mais se aproxima da sensação que tive pela manhã. Quase não acreditei que Chorão, o vocalista do Charlie Brown Jr. (CBJR), havia morrido. Até um dia desses, "Céu azul", o último sucesso da banda, tocava repetidamente nas rádios. Hoje, não apenas Céu azul, mas outras canções do músico devem ter tocado ao longo do dia, porém dotadas de certa tristeza.
Durante um bom tempo CBJR fez parte da trilha sonora da minha vida. Curti muito a banda, fui a show, comprei cd. Tempo suficiente para saber um pouco da história de Chorão, que vai desde uma infância difícil até a luta contra o câncer do pai. Quando a banda começou a aparecer (1996/97) na mídia, ainda morava em São Paulo e coincide com a época em que comecei a gostar de rock.
Eu me recordo de uma situação engraçada envolvendo a banda. Em 1997, houve o “Close Up Planet”, um evento em SP que iria contar com bandas conhecidas no cenário nacional (Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso...) e gente de fora como David Bowie e No Doubt, que na época estava no auge por conta do single “Don’t Speak”. O CBJR começava a despontar e também seria uma das atrações.
Claro que meu interesse era ver o CBJR, enquanto que minha irmã desejava assistir o No Doubt. E foi assim, que esperançosos, ligamos para uma rádio que iria sortear convites para o evento. Acabou dando certo, fomos sorteados e só não foi melhor, porque depois de esperar por horas na fila do show, fui impedido de entrar por não ter a idade mínima permitida. Resumindo, minha irmã ficou e fui para casa com minha cara de “aborrecente”. Contudo, anos mais tarde teria a oportunidade de assistir a um show da banda.
É bem verdade que já faz um tempo que não escuto CBJR, o tempo passa e mudam os hábitos, os gostos, as prioridades. Por sinal, as últimas notícias sobre a banda não me “agradaram” muito. Ainda assim, por mais polêmico que fosse, Chorão era um cara autêntico, o que contribuiu para fazer do CBJR uma das bandas mais reconhecidas do rock nacional.
O que fica na memória é a imagem de um cara que (em meio a suas qualidades e defeitos) buscava transmitir uma mensagem positiva, e que visivelmente amava o que fazia. Pelo menos hoje, ficam lembranças de um tempo em que eu não tinha muito com o que me preocupar. E a sensação de que sempre há o que aprender com as pessoas. Seja com atitudes, palavras ou canções.
“Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que fizesse sentido
Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta responsa
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol”
[Lugar ao sol – Charlie Brown Jr.]