sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Cabo de guerra


Depois de um tempo na Educação, passei a pensar que apenas duas razões podem levar uma pessoa a ser professor (a): paixão pela profissão ou falta de opção. Claro que esse pensamento é carregado de um pitada de ironia. Entretanto, a verdade é que ser professor no Brasil é muito complicado. E quem entra em uma sala de aula, dia após dia, sabe que a tendência é piorar. Não preciso aprofundar o tema, todos sabemos da realidade das nossas escolas.

Gosto de ensinar, mas talvez, goste ainda mais da relação que consigo estabelecer com as pessoas (geralmente crianças e jovens) através da sala de aula. Não é algo muito fácil de descrever, talvez, porque algumas coisas não podem ser facilmente definidas, e sim, vivenciadas. Todavia, como vários outros colegas, não posso negar que volta e meia me pergunto se vale a pena. Se lecionar faz sentido, se é futuro, se pode garantir o sucesso (seja lá qual for o seu significado para essa palavra) de alguém.

Por uma infinidade de razões, percebemos que infelizmente, a grande minoria dos nossos alunos se interessa verdadeiramente pelo estudo. Não é raro uma turma de 40 alunos, não ter mais que 10% deles focados no processo. E obviamente esse é um fator que somado aos salários irrisórios, falta de segurança, valorização/respeito... diminui consideravelmente a motivação dos profissionais da Educação, principalmente, aqueles que levam a sério a profissão.

Hoje, estive em um evento com alunos (11 - 14 anos) de diversas escolas da cidade. Como se fosse uma competição, os alunos representavam suas respectivas escolas, defendendo ideias de uma escola sustentável. E depois de observar inúmeras propostas fabulosas, quando pensei que nada mais poderia me surpreender (positivamente), algo aconteceu. Na hora da escolha dos dois alunos que irão representar o município na etapa estadual do evento, um dos escolhidos, que estava exatamente atrás de mim caiu em prantos. O pequeno homem, de no máximo 12 anos, não se conteve ao saber que seu projeto havia sido escolhido.

Do jeito que eu gosto de crianças, não preciso de muito para admirá-las. Ainda assim, poucas vezes vi algo semelhante. Naquele momento, ainda que por um instante, todo professor se tornou aluno. E são em momentos assim, ou em meio a abraços/sorrisos sinceros, demonstrações de superação dos alunos que me vejo quase sempre em meio a um cabo de guerra. Transitando sobre a linha tênue, que separa o desejo de abandonar a Educação da vontade de lutar ao lado desses pequeninos, que a cada dia me ensinam um pouco mais da arte de viver, acreditar e perseverar. 

"A pedra atirada na água nunca sabe o alcance da ondulação que causou"
[Taylor Mali]

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